O amor não é da ordem do olhar para aprisionar, mas é do dinamismo da parceria para criar. Eros é princípio de vida que não paralisa mas acontece na irrupção da generosidade mobilizadora. O amor não é domesticável, pois se rebela diante das servidões, vem abolir toda a escravidão e não apenas amenizar as feridas e torná-las suportáveis.
No Brasil colônia, os senhores usavam sexualmente as escravas, mas evitavam afeiçoar-se a elas, com receio de que o amor os levasse a emancipá-las da escravidão. ‘O amor, de per si, repele a escravidão’ diz o historiador José Oscar Beozzo. O amor ensina a ser livre e a libertar os outros.(in Juvenal Arduini. Antropologia, ousar reinventar a humanidade, São Paulo: Paulus,2002, p.116).
O amor não se acanha, pois Eros é expressividade. Assim o ser humano comparece inteiro na vida social, na trajetória de sua família, nos caminhos de sua comunidade. Com toda sua dimensão erótico-vital, com toda sua paixão, com sua arte, o ser humano apresenta-se ao mundo em vibrante liberdade solidária.
Para que a humanidade conheça outro tempo e viva situações de ampla alegria com muitos lugares à mesa comum, com o aconchego dos lares e dignidade do trabalho, há que recolher as melhores idéias, mas acionar o melhor do amor, o Eros indomesticável capaz de direcionar o destino da comunidade para que todos e todas ampliem seu campo de expressividade.
Assim, buscamos novas modulações da vida, dos nossos programas de ação, das nossas iniciativas. E é preciso pensá-las bem, para que sejam entendidas e admiradas. Mas não basta. É preciso que sejam amadas, já na sua elaboração e ainda mais na travessia.
A aurora desse eros comunitário desencadeia o fazer coletivo e amoroso que já está aí. O sol sai pelos olhos e aquece os corações, e não apaga as estrelas, que sabem brincar de esconder e revelar seu brilho. E as flores abrem suas cores e formas, seu perfume e beleza encantando corpo e alma com sua presença e com a promessa das sementes e dos frutos.
O amor nos une neste momento para que nossas mãos tomem a corda. É hora de retesar o arco da nossa prática de educação popular. Com nossas mãos na corda retesada, com o arco firme e flexível, com o destino nos olhos do conhecimento e no horizonte da ação, preparamo-nos para lançar a flecha do futuro que desejamos em mutirão.
Salvador/2016
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